Saudades de te conhecer
- Ked Maria
- 23 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
Na adolescência ouvia várias e várias histórias de como a presença esfria depois de tanto tempo ao lado da mesma pessoa. O amor dá a desculpas de ir comprar cigarros e deixa o comodismo como responsável da vida à dois. As brigas se tornam cansativas e os dias vão se desbotando. O segundo passo é negociar com o egoísmo para fugir da maldita rotina. Amantes, traições, compras, distanciamento, individualismo e até tentar achar um culpado são alternativas para não encarar a separação, o divórcio.
Todos conhecem, já ouviram ou passaram pela crise dos 5 anos de casado. São 20 estações climáticas; 60 meses; 240 semanas; 1825 dias; 43800 horas com a mesma companhia. Quando adolescente isso não me assustavam, dava até um ar de desafio, manter a felicidade aquecida por tantos números. Hoje a solidão já ocupa os cantos dos móveis, de cada cômodo da casa, brinca com o cachorro e adquiriu um lado da cama ao custo de parcelas de desapego. Os beijos são duros, as falas curtas, os olhares práticos e a comunicação oca.
“Tenha um filho, vai ser ótimo para relação de vocês.” “Viagem! Sim, é disso que vocês precisam.” “Sexo! Sexo e sexo!” “Quem não dá assistência perde pra concorrência.” “Outra casa, isso que vocês precisam, ocupar a cabeça com outras coisas, outros projetos.” “Já tentaram trabalhar em casa?”
Lembro ter lido em algum lugar que as pessoas não te escutam para ajudar, elas escutam para rebater. Não quero soluções mágicas, quero descobrir o que aconteceu de errado. Tapar buracos abrindo buracos maiores nunca foi a minha praia. A casa está bagunçada de incertezas e o calor dos abraços estão soterrados em alguma pilha de jornal. A sintonia ainda está por aqui, debaixo dessas camadas grossas de poeiras do silêncio.
“Sinto saudade de te conhecer!” Apertei o botão enviar com os olhos fechados e o coração na boca. A mensagem não faria sentido, não seria respondida e ignorada assim como todos os quase carinhos oferecidos. “Você aceita tomar aquele café comigo? Mas tem que ser agora, pois a Rua da Bahia não permite desamores congelados.”
O café da Rua da Bahia com certeza é um lugar de encantos do desconhecido e agora seria palco de mais um encontro para se reconhecer um no outro.
“Prefiro chá de hortelã!”

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