Vista Terapêutica
- Karine Pires
- 18 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Havia ali uma visão diferente do centro de BH, eu adorava me sentar ali e contemplar aquela vista, pois tudo ficava melhor com uma cerveja . Do bar, Mí Corazón, um dos vários bares da Rua Sapucaí, se via o viaduto, um pedacinho do metrô e vários prédios vestidos de grafites. Ficava pensando porque eu , em sã consciência andara procurando cantos pela cidade , para ficar em paz, quando na verdade aquele lugar é quem me procurava, aquele bar me chamava para sentar e olhar o sol outra vez, olhar a vida com mais cor.
Por isso é que resolvi ir ali só para observar as vidas que passavam pelos copos de cervejas, pelas risadas e papos naquela tarde de sexta-feira. Senhor Paulo trabalhava no posto ao lado e via toda essa movimentação pela rua,mas dia de sexta era diferente. Além de ansiar pelo fim do expediente, também ansiava pelo fim da bagunça, pois havia uma rua antes dos bares e agora uma outra, com bares e clientes circulando pela sua rua ,era assim como paulo a considerava,pois morara ali desde seu nascimento.
Nesta sexta-feira me encontrei com paulo e me perguntei o porquê de estar com a cara de quem chupou limão.
_O que aconteceu ?
_Resolvi sentar nesse bendito bar contigo, para ver se sentia a mesma coisa que você por essa tal vista.
_Ah que bom , meu amigo! Eu sei que você não gosta de barulho,e sei que as pessoas deixam a rua extremamente suja, e que a rua de hoje não tem esse significado para você. Mas queria te mostrar algo velho meio novo, para que possa redescobrir isso , sem se perder na rotina amargurada da vida de não perceber os detalhes de um dia a dia.
_Então mostre-me logo , porque por enquanto não tem barulho, são só 18:10, vim direto do posto para cá, e realmente não deparei com nada diferente.
_Sim, pois observe pro lado de lá da rua, vamos no sentar nesses banquinhos do mí corazón e fazer este exercício, olhe para a vista que estamos vendo.
_Sim, não vi nada demais! Apenas tinta de jovens loucos por atenção nesses prédios abandonados, me diga alguma novidade, José.
_Paulo, apenas olhe e faça silêncio!
_Tá bom, tá bom!
E por um momento Paulo se percebeu , e percebeu as coisas à sua volta. Sentiu um misto de sentimentos e mergulhou em lágrimas. Pois a vista lhe trazia um conforto e pelo visto mesmo que geograficamente não era a mesma, a Sapucaí não deixará de ser a rua que ele cresceu e que está sempre em constante mudança assim como nós mesmos.
Após o acontecimento, Paulo andava pelas ruas reparando o espaço em que estava e seu como estava, principalmente no posto que também dava oportunidade para que ele tivesse essa visão .
As pessoas mudam e os espaços que elas constroem também, mas a rotina de ir para o trabalho e chegar em casa extremamente cansado, nos faz esquecer que os dias se esvaem e neles há sutilezas que nós devemos reparar . A rotina de trabalho e estudos que temos,sufoca sem dar folga para sermos mais otimistas e olhar o dia com mais afeição.Mesmo não gostando da barulhada, ele agora tinha uma outra percepção da maneira com que encaramos as coisas, talvez meu encontro com ele resgatará um olhar mais otimista da própria vida , mas ele é quem decidiu se deixar ser olhado e olhar para os detalhes da vida e da imensidão da mesma.

Comentários