Nada Aconteceu
- Fernanda Mendes
- 16 de mai. de 2018
- 2 min de leitura
Passou-se então, horas a fio do lado dela.
Horas? Queria dizer dias, meses, anos...
Mas vendo no relógio, os minutos que se passaram, não formavam sequer meia hora. Não sabia o que fazer o tal rapaz que se deleitava em sua vergonhice abstrusa e um rubor leve em seu rosto. Mal sabia ele, que a garota em seu ombro direito, também se deleitava do mesmo sentimento, há muito tempo oculto. Os dois se escondiam em leves sorrisos e piscares namoriscados para se abster de palavras.
Passava em suas mentes nada mais do que “Me beije logo ‘palavrão censurado’ ”, mas nada era relatado no final. Passava também o tempo perdido, ou seria o tempo acrescentado?! Pois por medo de uma amizade arruinada, não tentava arriscar.
As pessoas ao redor desejavam que aquele drama, com uma pitada mexicana acabasse logo. Mas como todos nós somos emotivos quanto à finais felizes, o público desejava um beijo longo e melado entre o casal. Mas, e o casal?! Eles não se importavam com as várias pessoas próximas no transporte público, somente tentavam controlar a respiração e os batimentos cardíacos. Transporte público?! Sim, transporte público, sentados no chão sujo de uma lata de sardinhas com olhares de gaivotas direcionados aos dois. Mas é sério! Eles não se valiam dos outros ao redor, mal enxergavam as pessoas. Era visível a falta de querer ter alguém a não ser um ao outro.
A respiração da garota era controlada por contagens dos números sequenciais de 1 a 27, porém, depois de um tempo, os números se tornaram exóticos, e os pensamentos “e se” rodeavam seu consciente. Enquanto sua deusa do sexo desejava uma troca de salivas demorada para saciar a sua abstinência. Mas sua casca envergonhada a impedia de tornar aquilo, um final feliz. O que ela poderia fazer? O que ela iria fazer se ele rendesse seus lábios? E por que ela aproximava o seu rosto ao dele? De olhos fechados, fingindo inocência, pensando que o balançar do transporte poderia ser a desculpa perfeita para esbarrar os seus lábios aos deles. Somente encostar, tocar, sentir a temperatura... Era frustrante a ideia de se render a ambas opções, beijá-lo e não o beijar. A ojeriza em perder aquilo que já era fixo, não a deixava arriscar.
Era uma mistura profunda de sentimentos ligados uns aos outros, o medo, paixão, fogo, timidez, vontade, querer, poder, ansiedade.... Eram tantos que ficava difícil opinar com a razão e esquecer o coração.
Os minutos não corriam.
Os passageiros pareciam assistir um filme sem cortes.
A trilha sonora era uma música de suspense estilo psicose, misturada com uma música romântica que toca nos filmes açucarados.
Os dois de olhos fechados, lábios com pouquíssimos centímetros de distância, respiração...que respiração?! Pensamentos de “que se dane”.
Mas, o medo apertou, o risco correu, a vontade não passou, só era difícil de completar.
Ficou somente no abraço, e “Nada aconteceu”.

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