Carência
- Ked Maria
- 22 de mar. de 2018
- 4 min de leitura
Não sei o que me motivou a fazer isso. Talvez a pressão dos amigos. Carência? Bem provável. O fato é que estou dirigindo por Belo Horizonte atrás de um puto. Não me julgue, há dois anos eu não sei o que é sexo, o que é toque, o que é carinho de alguém. A ideia maluca começou no café do trabalho em uma roda de conversa.
"Tenho uma amiga que falou que eles são SENSACIONAIS" "Melhor sexo que já fiz na vida foi com um puto desses" Quanto mais escutava mais me molhava, ninguém é de ferro e a imaginação não cooperava. Sai de lá com um desejo incontrolável, precisava disso, mas não queria ter que pagar por sexo. A internet é uma boa fonte de pornografia, o fato é que já não me aguento, quero alguém para foder. Forcei a memória da última transa, talvez os antigos parceiros ainda estivessem disponíveis.
Lucas do administrativo já estava casado, André da padaria estava de namorada nova, e o Matheus do prédio tinha pegado gonorreia. As coisas para mim nunca eram fáceis. Cheguei em casa decidida: hoje eu vou gozar! Abri a porta de casa determinada a sair a Miss Gostosa de Belô. Coloquei a playlist "Músicas Sexy" no Youtube para entrar no clima e liguei o chuveiro no máximo, fiz questão de usar o sabonete de pitanga (aquele que é para momentos especiais). Juntei espuma na esponja e me esfreguei devagarzinho para sentir cada parte do meu corpo. Vesti aquele vestido que me deixava atraente, ia fazer a linha seduzente misteriosa.
No carro já não tinha certeza do que queria. Olhei no espelho e vi quilos de maquiagem, tive a certeza que aquela ali não era eu. Se eu fosse realmente interessante não teria que fazer nada daquilo, os homens iriam me desejar cotidianamente. Tinha que aceitar a realidade, ninguém queria transar comigo. Olhei para baixo e vi a Abigail, estava depilada, pronta pra uso, amiga, parceira, me disse com uma apertadinha: "tu precisa dá, mulher".
Segui com o carro confiante, afinal, eu pagaria pelos serviços, ele deveria ser no mínimo profissional.
Entrei no bairro Padre Eustáquio sentindo o cheiro da foda certa. Ao me aproximar do Fórum Lafaiete aumentava a quantidade de homens na rua. A parte mais difícil é escolher, o cardápio é bem abrangente, são vários homens bem vestidos, bombados, magros, altos, baixos, alguns segurando o Malaquias e mascando chiclete. "É só escolher um!" O sinal ficou vermelho, vou desistir! O coração já estava na boca, o senso de ridículo já estava batendo na porta com um cartaz enorme escrito: SAUDADES QUERIDA! —Boa noite, princesa! Virei lentamente a cabeça para a janela com aquele olhar de poder. (Afinal eu tinha que entrar no personagem). Abri a boca para fal... —Espera, você não é a Cláudia do Compras? Era o gostoso do Éder, trabalhava no RH. O sonho de consumo. O delícia do Estoque. Primeiro susto. Segundo, MEU DEUS ELE É UM PUTO. Terceiro, O QUE ELE VAI PENSAR DE MIM? —É Márcia! — não adiantava fingir, ele já tinha me reconhecido. —Boa noite, Éder? Não é mesmo? Minha cara de vergonha deve ter entregado o jogo, porque ele endireitou o corpo e como um atendente do MC Donald's falou: —Os preços variam de 20 a 50 reais. Topo no carro, motel e ir para um lugar tranquilo. Pifei. O que dizer? Como agir? O que eu quero? E por último, por que tem um carro buzinando atrás de mim? —Entra aí! — disse. O deus grego entrou no meu carro e arranquei, quase deixei o carro morrer, mas eu consegui controlar a situação. O pior vem agora. Estou com um colega de trabalho no banco do passageiro, ele sabe o que quero, e o melhor, está querendo me vender prazer. —Você pega a Samira? —Oi? —Você sabe, todo mundo da empresa vê vocês duas conversando e nenhuma com homem. —Não! — disse firme. —Lógico que não! —As pessoas que falam isso são um bando de —pensei antes de sair algum palavrão —, mal informadas.
O clima no carro passou de embaraçoso para um clima de tensão. Ele continuou a falar sobre as pessoas da empresa e eu rebatendo as ideias erradas, até que já estava calma e risonha com a situação.
A conversa começou a ficar divertida, engraçada, então descobri que havia várias semelhanças entre nós dois. Depois de quase meia hora dirigindo me dei conta: "onde eu estava indo?" —Sempre achei que você era chata, não dava muita confiança e nem brincava muito. Enfim, conheço um motel aqui perto da Praça da Liberdade, ali perto da João Pinheiro.
Caí na real! "Oras, você veio pra cá com um objetivo mulher!" —Eu estou com um pouco de fome — falei com o estômago roncando —, vamos ao BK primeiro.
—Ótima ideia! E confesso surpresa, achei que você só fazia dieta.
Caímos na risada, não sabia que passava uma imagem tão fechada para as pessoas. Sim, era engraçado tudo aquilo. Talvez eu devesse dar mais liberdade para as pessoas conversarem comigo, brincar mais com as situações da vida, isso poderia me fazer ter mais momentos como aquele. Passamos no Burguer King onde eu escolhi comer um Big King e ele um Whopper. Fizemos bagunça com o refrigerante e o katchup (não me perguntem como), quando voltamos para o carro já tinha me resolvido.
Segui de volta para o Fórum do Prazer com o rádio alto e cantando loucamente junto com o meu parceiro de viagem. —Uai, voltamos? —Quanto que foi? —Mas não fizemos nada! —Acho que hoje eu não tô a fim de fazer nada. O medo de ter ofendido passou por minha cabeça. A noite foi tão divertida e gastamos o tempo dele, afinal ele estava trabalhando, estava de algum forma me proporcionando prazer. —Trinta pra você que é conhecida! — abriu um sorriso. Tirei o dinheiro aliviada por ter certeza que não tinha magoado o meu "conhecido". Cheguei em casa em torno das duas da manhã, passei em frente ao espelho e vi aquele mulherão. O vestido se encaixava perfeitamente, o cabelo impecável, a maquiagem valorizava meu rosto, e o salto me fez soltar um "PUTA QUE PARIU QUE MULHER GOSTOSA".
Passei a mão no meu peito e já senti a Abigail molhada a se contrair. Corri pro quarto, achei o Júnior ( meu vibrador) e fui para o banheiro.
Essa noite eu tenho um objetivo: gozar! Encontrei a forma perfeita para isso, eu mesma.
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